sempre gostei de ir ao barbeiro, desde os meus 15 anos que me mantenho, mais ou menos, fiel ao mesmo... um que abriu na praceta abaixo da minha, quando era puto e tinha o cabelo de Rockabilly, até quando estava na tropa, e podia ter o cabelo cortado à borla, ia ao meu barbeiro, fazia sempre a "rampa", o que me valeu a alcunha de Dragan, adaptado pelo "Inês" (que vinha de Castro, o seu último nome), de Drago, aquele que lutou com o Rocky, no IV... depois da tropa, voltei ao estilo Rockabilly, mas fui experimentando outras coisas... uma vez, antes de ir passar 9 dias a Andorra, decidi fazer um penteado tipo Keith Flint, mas com as riscas a acabarem no inicio do pescoço... já tentei ter o cabelo grisalho, mas não descolorou até ao branco, que era necessário para se poder pôr a tinta cinzenta, porque o couro cabeludo estava a ficar ferido, então, quando estava assim um amarelo muito claro, experimentou-se o cinzento, o que resultou num dourado... a alcunha, nessa altura, era o "Superguerreiro"... outra vez fiz uma "rampa" a acabar em bico, na parte detrás da cabeça... até tentei deixar crescer o cabelo, queria ter uma trança até meio das costas, presa com um laço vermelho... mas a franja só chegou ao queixo, num dia de ventania, cortei-o curto...
esse barbeiro, ao qual me vou mantendo, mais ou menos, fiel, entretanto abriu outras lojas, em mais dois sitios e à hora de almoço, eu vou ao que estiver mais perto... hoje quando saí da piscina, passei no que fica em caminho, cheguei lá, mais ou menos, às 13h30m, estava um gajo que devia ser da minha idade, mas que parecia ter mais 10 anos, sentado na cadeira à conversa com o barbeiro que faz a hora de almoço sozinho, ao lado, e à minha frente estavam dois irmãos... a conversa era sobre football, o cliente é do Benfica, diz as coisas mais idiotas que podem sair da boca de alguém... que o veiga estava lá bem no Benfica, que o engenheiro tinha sido injustiçado e até que o scolari esteve muito bem... tive de me conter tanto, para não lhe chamar atrasado mental... mas é uma regra que me impus recentemente; que quando discordo tanto de alguém, me recuso a conversar com essa pessoa sobre o assunto, seja ele qual fôr, cada pessoa tem as suas verdades... lá se calou, pagou e andou... salta prá cadeira o mais velho dos irmãos, deve ter uns 20 e poucos anos, tem aquele penteado da moda actual dos jogadores da bola... tipo, uma mini-crina em cima, pente 2, ou 3, de lado e maior em toda a parte detrás da cabeça... pede para manter, só aparar... eu com o correio da manhã, nem dei pela conversa que tiveram, acho que qualquer coisa sobre o rapaz ter arranjado uma namorada e uma discoteca qualquer que é muito boa, porque tem mais que uma pista e vários estilos de música diferentes... reggaeton numa pista, hip hop noutra e outra merda qualquer desse tipo, noutro lado qualquer... uma velha que chega com o neto, que deve ter uns 12 anos, diz que está muita gente, mas que vai convencer o neto a esperar, assim que sai, já o neto ia do outro lado do passeio, ela chama-o umas três vezes, mas o puto, mal educado como o..., finge que não ouve... ela volta a aparecer na porta e diz que ele se foi embora, mas que ela fica ali a marcar a vez... quando o rapaz se levanta, passa o irmão para a cadeira, tem um penteado normal, mas é pra fazer igual ao mano mais velho... que entretanto, está no paraíso, em pé rodeado de espelhos, olha-se em todos, enquanto vai fazendo poses... estou mesmo a imaginar o gajo na tal discoteca, deve ir com as havaianas brancas que tem calçadas, cheio de feridas, ou micoses, ou lá o que seja, em todos os dedos dos dois pés, que orgulhosamente exibe, deve-se fartar de dançar... t-shirt preta que diz Dolce & Gabbana por todo o lado, claramente influênciado pelo cristiano, jeans cheios de truques, bolsos assim e assado, presilhas e tal... e um cinto branquinho, que lindo..., a condizer com as havaianas... eu já caguei no correio da manhã e jogo solitaire no telemóvel... a velha volta a meter a cara dentro da barbearia, para dizer que já convenceu o neto a esperar com ela... o metrossexual senta-se e fica a olhar para o corte do mano, que vai surgindo... eu, que já me fartei do solitaire, fico no meu desporto favorito das esperas, mas que estava a tentar evitar..., a observação critica... o metrossexual olhava com aquela expressão desprovida de inteligência, que é assim com a boca meio aberta, com o lábio debaixo descaído, com os dentes do maxilar inferior a aparecer e olhos de bicho mal morto... o mano mais novo falava também de football, nem liguei ao que dizia... finalmente, o corte acaba, está parecido com o mano mais velho, agora são dois com ar de palermas lá em casa, quer dizer, não conheço o pai, nem a mãe... depois de 1 hora e 45 minutos, perdidos da minha vida, naquela espera em que não aprendi nada, sento-me na cadeira, o barbeiro pergunta e eu respondo: -zero...