Friday, April 18, 2008

episódio 3...

esperei que a noite chegasse sentado naquela cadeira, à porta da tasca... entretanto, com a noite, chegou também um Sono muito forte, todos os sons que me rodeam começam a ir embora, para muito longe, todas as conversas vão desaparecendo, enquanto os meus olhos se fecham...
uma Menina pequenina mexe-me na mão, pergunta-me qualquer coisa, eu ouvi, mas não percebi... assim que abro os olhos vejo-a, está a sorrir e não tem um dos dentes da frente, a boca dela volta a mexer e só apanho metade do que diz... agarrou-me no dedo indicador da mão direita e começa a puxar-me, com um sorriso, faço-lhe a vontade, sigo-a... lembro-me vagamente de estar sentado à porta da tasca e de ter começado a anoitecer, ainda é de noite, não devo ter fechado os olhos por mais de 4, ou 5minutos, mas quando olho para trás não vejo a tasca, só um banco de jardim, em madeira, numa praça, de onde acabei de me levantar...
ter-me apercebido da mudança de cenário, faz-me ficar alerta...
quando me volto para a frente, a Menina que me puxa, já não tem ar de menina, a pele dela está pálida, continua a faltar-lhe um dente, mas os outros estão agora afiados, ela ainda sorri, agora um sorriso maléfico, tento parar, travar os meus pés, e assim que abrando a passada, sinto que a mão dela se crava no meu dedo, e que me arranca o dedo se eu parar de correr...
leva-me, pelo meio de casas, passamos ao lado de um lago, atravessamos arbustos, começo a ouvir Música, Tambores e Guitarras Eléctricas Histéricas... a luz do Luar da Lua Cheia, está morna, consigo senti-la na minha pele, mas o Luar não toca na Menina Feia, já só consigo ver um Vulto pequeno Negro Mate a puxar-me pelo dedo, que agora sangra, e o meu sangue fica Escarlate ao Luar, sobressai no escuro... o Vulto, enquanto corre solta uma respiração rouca... estou cansado, mas não me atrevo a parar...
o Vulto da Menina Feia, de repente, solta-me o dedo, larga-me no meio de uma Floresta cheia de Ventos, Ventos Uivantes que vêm de todas as direcções, as Árvores são muito altas e estão loucas, parecem vivas, parece que os Ventos as fazem dançar ao ritmo dos Tambores e das Guitarras Histéricas, os raios daquele Luar que vão entrando pelo meio daquela dança, iluminam o chão, as Pedras têm caras, caras Bizarras, que não têm parecenças humanas, e os olhos, os olhos estão arregalados, grandes e carregados de medo... o tom daquela Música, começa a baixar, começa a confudir-se com gritos, gritos de medo, de horror... enquanto a Música amaina, a dança das Árvores com os Ventos Uivantes, deixa de ser louca, para passar a ser uma espécie de Tango, a luz do Luar já não entra tão facilmente, o meu sangue Escarlate começa a coagular... sinto que passam por mim, à minha volta, vidas, espiritos, animais, bichos, uns voam, a maior parte corre, ou salta... passam muito perto, cada vez mais perto, as tangentes, passam a encontrões... tento equilibrar-me, mas não vejo, tento adaptar os meus olhos ao escuro, mas apercebo-me que o que me agride é Negro Mate, como a Menina Feia... são rápidos, quando os sinto a aproximar já é tarde de mais...
e num instante, os encontrões param, tudo pára...
fica só um silêncio... atinge-me uma Solidão, sinto-me tão só, não me lembro de conhecer ninguém, na minha vida, neste momento, nesta solidão, neste escuro, sinto-me tão só... e ao mesmo tempo sinto todas estas Criaturas, à minha volta, tão perto, todas a olhar para mim, só à espera... não sei de quê, ou de quem... se calhar de um movimento meu, de uma decisão minha...
à minha tremenda Solidão, junta-se um Medo impossivel, um Medo gigante, que nunca pensei ser possivel sentir, supera todos os terrores, quero mexer-me, mas este silêncio aperta-me, as respirações roucas e silenciosas destas Criaturas é que me seguram em pé... sei que estão perto, sinto-lhes os olhos em mim... até as Árvores me esperam, olham-me de cima, tapam o Luar de propósito, tudo à minha volta parece em extase, a antecipar o que me espera, começo a sentir que um mal muito grande se aproxima... o Medo continua a invadir-me, cada vez mais forte, sinto que pode ser este Medo que me vai matar, sufocar, engolir... penso que pode ser a minha melhor alternativa, entregar-me a este Medo e deixá-lo matar-me... e enquanto pondero isso, a Solidão, que estava a perder terreno, volta e ataca-me com força igual à do Medo, o que sinto agora é que a Solidão e o Medo estão a competir, para ver quem me leva... não aguento muito mais, os meus membros deixaram de me obedecer, acho que estou em pé, à minha volta está tudo escuro, e começo a sentir movimento... uma das Árvores desvia-se, deixa passar um dos raios do Luar Morno, apontado a mim, acerta-me no golpe que tenho no dedo, o calor do Luar aquece o sangue e fá-lo correr de novo, Escarlate, que parece florescente no meio desta escuridão toda... voltam os gritos de horror, os Tambores e as Guitarras Eléctricas Histéricas, recomeçam, devagar, os Ventos Uivantes voltam à sua dança com as Árvores, mas uma dança lenta, como a Música... com isto os raios de Luar passam, principalmente, por mim e à minha volta, olho em redor, sei que as Criaturas estão ali, sentia-as no escuro, mas agora consigo ver aqueles Vultos Negro Mate tão perto... os gritos de horror vêm do chão, saem das Pedras, que continuam com os olhos arregalados e gritam, o que excita as Criaturas, que recomeçam a movimentar-se, afastam-se de mim, vão para longe, volto a ficar sozinho com o meu Medo e a minha Solidão, ambos intensos... seguro o dedo, tento que o sangue pare de correr, assim que escondo o Escarlate, as Criaturas voltam a correr, voar ou saltar para mim, desta vez, cortam-me... no meio dos raios de Luar vejo os Vultos a subir às Árvores e a trazer para baixo uns espinhos aguçados, do comprimento dos meus braços... o primeiro golpe foi no braço esquerdo, um corte pouco profundo, mas que volta a derramar sangue, as Árvores desviam-se de maneira a que o golpe fique sempre exposto ao Luar Morno, e assim tornar-se Escarlate... com esta visão voltam os Tambores a acelarar o compasso, as Guitarras estão mais Histéricas que nunca... sinto uma Alegria Maléfica a rodear-me, menos pelas Pedras, as Pedras continuam a gritar um horror impressionante, sinto que sofrem de um Medo e de uma Solidão superiores aos meus... dispo a camisa do Spiderman que tinha vestida e enrolo-a no braço, tentando mais uma vez conter o sangue, as Criaturas guincham e investem de novo, arrancam-me a camisa da mão, e golpeiam-me novamente, mas nas costas, mais um golpe pouco profundo... volto a sentir que estão em extase, que estão a poupar-me, que estão a ferir-me devagar, que estão nos preliminares, não me querem já morto... começo a entender o jogo, enquanto tento aguentar as dores das feridas, fazem-me novo golpe, agora no peito, os riscos de sangue que se torna Escarlate neste Luar, que é Morno para manter o sangue a escorrer... nesta altura as Árvores já se afastaram de maneira a deixar-me numa clareira... agora consigo ver as Criaturas Negro Mate a aproximarem-se com os espinhos para me atacarem, a minha adrenalina disparou, o Medo foi reduzido por ela, até um nivel suficiente para estar alerta, a Solidão ainda está comigo, não consigo deixar de me sentir sozinho, o único ser humano neste Mundo de terror para onde fui arrastado... vou tentando esquivar-me aos ataques, e vou conseguindo, mas reparo que isso só diverte estas Criaturas, percebo que ao me darem a chance de as ver, e de me ir esquivando dos seus ataques, aumenta a competição entre elas... e aí descubro que não vou viver, estar a esquivar-me só prolonga mais um pouco a minha vida e diverte as Criaturas... já tenho bastantes golpes, riscos Escarlate por todo o corpo, a excitação destas Criaturas está no seu auge, já lutam entre si...
penso agora, que esta minha luta para me manter vivo, não vale a pena, mesmo que conseguisse o impossivel, que é derrotar todas estas Criaturas, não sei para que lado é a saída, ou se existe uma saída...
os Ventos param de dançar com as Árvores, as Árvores juntam-se, trazem de novo o escuro, e o Medo aterrador volta para mim, junta-se de novo à Solidão e recomeçam a batalha, as Pedras calam os gritos de medo para começarem a gemer, sinto que as Criaturas fazem um circulo à minha volta, as Guitarras Histéricas soltam sons estridentes, os Tambores ritmam um som medonho... a Morte está presente, chegou agora... e diz-me, sem falar, que me quer os ossos, que o meu sangue vai servir para alimentar os seus filhos, que a minha Alma vai ficar nesta Floresta, que vai reviver, e sentir, a minha morte sempre que houver nova vitima, que se vai juntar às dos outros, numa Pedra qualquer...
o Medo e a Solidão violam-se dentro de mim, unem-se, transformam-se no meu Desespero...
o meu cerebro sabe que o meu caminho vai acabar neste lugar...
a Morte sorri-me... com um gesto, liberta todos os seus filhos, um guincho ensurdecedor anuncia o Ataque Final, disparam na minha direcção, agora sem os espinhos, agora consigo ver-lhes os olhos, por entre toda esta escuridão, as Criaturas deixam que lhes veja os olhos pretos brilhantes, esfomeados de mim...
quando o meu cerebro está prestes a desistir, a entregar-se ao Desespero e à Dor Imensa que está para chegar, o Coração assume o comando, dá-me força, faz correr o sangue que me resta pelo cerebro e força-o a funcionar, impede-o de desistir, sinto um Poder Supremo a crescer dentro de mim, cresço com ele, o bombear do Coração rasga a união maldosa do Medo e da Solidão, e mata o Desespero, expulsa-os de mim, torna-me bruto... no meio do ritmo diabólico dos Tambores, dos gemidos das Pedras, dos guinchos das Criaturas Negro Mate de olhos pretos brilhantes, que chegam cada vez mais perto, sai de mim um Urro poderoso, que faz parar tudo... sinto o Poder que tenho, sinto-me Invencível, as Criaturas param... olham para mim, rodeiam-me, adiam o ataque, agora avaliam-me, não têm medo, porque não sabem o que é isso, são filhas da Morte, e o que pode meter medo à Morte, ou aos seus filhos?
a Morte, manda os Tambores troarem o seu pior, as Guitarras Histéricas fazerem o pior que souberem, para que os Ventos Uivantes voltem a dançar com as Árvores, para que o Luar Morno incida de novo sobre mim, para que o meu sangue volte a escorrer e se torne Escarlate de novo, para que a Criaturas ganhem novo alento, para que o Ataque Final se concretize, para que a minha Alma sofra a minha morte para sempre, para que os seus filhos se alimentem e para Ela poder juntar os meus ossos à sua colecção...
as ordens foram cumpridas, resultou quase tudo como a Morte quis...
o Poder que tenho agora, além de me tornar mais Forte e mais Rápido, aguça-me a visão, agora consigo distinguir as feições das Criaturas, os seus contornos e o tamanho da sua maldade...
mas deixaram de me meter medo, agarro a primeira Criatura que me ataca, morde-me no braço, mas os seus dentes não entram na minha carne, aperto-a, e sem grande esforço sinto-lhe os ossos desfazerem-se entre os meus dedos, uso a minha mão direita como Martelo e a esquerda como um Sabre, devido à rapidez dos meus ataques, consigo cortar qualquer uma destas Criaturas pelo meio... a luta é feroz, umas das Criaturas são mais bravas que outras, essas conseguem ferir-me, mas mal sinto os ferimentos, vou perdendo sangue, que algumas Criaturas vão sugando, e com isso, recuperando forças...
a Violência é Indescritível, com o último dos filhos da Morte na mão esquerda, enfrento-a, estou confiante, nem a Morte me mete medo...
mato-lhe o último filho enquanto a olho, a sorrir...
à Morte não consigo ver os olhos...
assim que a última Criatura morre, todas as Pedras estalam, todas as Almas fogem... não sei para onde, nem me interessa...
estou a enfrentar a Morte, e ao tentar ver para dentro do capuz, volto a sentir aquele Medo e aquela Solidão de novo!
sinto o Poder a desvanecer, estou a enfaquecer rapidamente...
o Sono ataca-me, os olhos fecham-se e ouço a Morte a rir...

1 comment:

Uni~Q said...

...cum c*r*lh*...desculpa lá mas ia ficando ceguinho a ler este...

...e cum c*r*lh* , se percebi pêvas do que li !!!...e ainda bem que não , espero que seja sempre assim...

boa continuação...